segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O ETERNO CLIMA EXPLOSIVO DA REFINARIA


Operários e engenheiros revelam bastidores que mostram como as relações são tensas na obra, o que pode gerar mais greves.

Cenas de guerra já foram vistas na Refinaria

Foto: Guga Matos/JC Imagem




Oficialmente, a greve nos canteiros da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e PetroquímicaSuape (PQS) acabou. Mas uma série de problemas internos, amplificados pela convivência de 54 mil homens em duas obras redentoras, atrasadas e com orçamentos estourados continuam sendo ameaças de novos conflitos. Para piorar, o espólio da paralisação surge como mais um ingrediente explosivo: um grupo de aproximadamente 100 trabalhadores demitidos por justa causa e, com isso impedidos, por cinco anos, de atuarem em qualquer empreendimento da Petrobras. Outro ponto problemático é a nova tabela de pisos salariais, principal ponto do acordo entre patrões e trabalhadores. Os reajustes maiores ficaram com os encarregados, vistos pelos operários como “carrascos” nas obras. A bomba-relógio continua.

Ednaldo Pereira da Silva é caruaruense, tem 30 anos e trabalhou durante um ano e meio como rigger – operador de guindaste – e depois como montador. Demitido por justa causa na última segunda-feira, foi ontem procurar o advogado do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Pernambuco (Sintepav-PE) para tentar reverter a situação. “O advogado me explicou que, se entrar na Justiça, tenho muitas chances de ganhar. Nunca depredei patrimônio, nunca agredi ninguém”, afirma o desempregado, que diz ter saído sem receber qualquer remuneração.

Sobre as obras ele é enfático: existe arrogância por parte dos encarregados, pouca comida (se comparada com o serviço pesado), além de banheiros imundos. “O esgoto inundava o chão, tanto que muita gente nem queria tomar banho lá. Quando a fiscalização do Ministério do Trabalho batia, estava tudo limpo. Mas isso porque o Recursos Humanos havia sido avisado da chegada dos fiscais”, explica Ednaldo, para depois completar: “a greve acabou, mas vai continuar com tudo errado”.

Para o engenheiro mecânico C.L. (que pediu anonimato), 64 anos, só foram precisos 73 dias dentro do canteiro de obras da Rnest para pedir demissão do cargo de gerente de contrato. Deixou para trás uma salário bruto de R$ 6 mil. Tudo porque encarou ter a Rnest no currículo como uma mancha. “Qual o engenheiro que vai anunciar que trabalhou em uma obra que atrasou quatro anos e ficou dez vezes mais cara?”, arrematou.

Contratado em março deste ano para assumir uma função de confiança, a qual lhe foi incumbida a responsabilidade de gerenciar um contrato de R$ 12 milhões, C.L. não economiza ao apontar as graves falhas que acontecem no dia a dia da construção da primeira refinaria do Brasil em 30 anos. “Nunca vi tanta coisa errada. Para entender é preciso passar 60 dias lá dentro. São acúmulos de erros e excesso de retrabalhos. Tanto que, se a obra estiver concluída em novembro de 2014, será um milagre da engenharia da incompetência”, dispara.

Falta motivação da maioria dos colaboradores, sobra despreparo na fiscalização da obra. São inúmeros os casos de assédio moral que ensejam atos violentos e há uma falta de experiência geral no canteiro, lista o engenheiro. Porém, o problema mais grave apontado por C.L. são as margens de lucro que as empresas obtêm. A Petrobras foi procurada para comentar as denúncias mas não quis se pronunciar.

Confira depoimento do engenheiro no vídeo abaixo:



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A Refinaria Abreu e Lima localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape, Pernambuco é da Petrobrás encontra-se em processo de construção desde 2007 com recursos do PAC2. Os trabalhadores vêm sofrendo com as condições de trabalho cujo reflexo é as duas greves deste ano tendo, esta última, duração de 15 dias e um saldo de cem demissões. Além das irregularidades trabalhistas, esta obra do PAC, assim como tantas outras, está atrasada e corre risco de ser interrompida por irregularidades orçamentais. Desde o começo da obra até agora o custo da construção se elevou em dez vezes, de US$ 2,3 bilhões para US$ 20,1 bilhões.

COMENTÁRIO COM:

Mercedes Solá Pérez (CEGeT/ENCONTTRA)




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