Dormitório da Foxconn. Oito trabalhadores por quarto. |
O programa francês "Envoyé Especial" (Enviado Especial, em tradução livre), veiculado pelo canal France 2, mostra que pouco mudou nas fábricas da Foxconn após a montadora de eletrônicos chinesa, responsável pela fabricação de gadgets da Apple, se comprometer a melhorar as condições de trabalho de seus funcionários.
Veiculada na
última quinta (13), a reportagem é chamada de "e-Germinal: no inferno das
usinas chinesas", em uma referência ao romance Germinal de Émile Zola, que
retrata o sofrimento dos mineiros de carvão na França no século 19. O vídeo
mostra imagens feitas por duas pessoas infiltradas em fábricas na China da
Foxconn -- a companhia se recusou a permitir a entrada dos jornalistas.
Segundo a
reportagem, o sistema de produção da Foxconn, que emprega 1,4 milhão de pessoas
na China, funciona à base de um "gerenciamento militar" nas fábricas,
"onde os insultos são cotidianos e os dormitórios insalubres".
Não há imagens da
linha de produção porque os funcionários são obrigados a deixar todos objetos
"metálicos", incluindo celulares, em armários antes de começar a
trabalhar. Eles não podem usar relógios e não há relógios nas paredes da
fábrica. "O tempo não passa. É desesperador", conta a mulher que
trabalhou infiltrada.
"Nós tínhamos
de trabalhar durante a madrugada, durante oito horas. O turno terminaria às 5h
da manhã, mas daí eles decidiram acrescentar mais duas horas de trabalho. Nós
tivemos apenas uma pausa, mais ou menos às 23h. E o trabalho é sempre repetir o
mesmo gesto", conta o outro infiltrado.
Dormitórios
insalubres
Depois do
trabalho, todos retornam ao dormitório, diz ele, "mas não conversam uns
com os outros". São oito pessoas por quarto, equipados com beliches sem
colchões. Há uma sala de TV – um pequeno aparelho pendurado na parede – com
fileiras de bancos de madeira. Alguns dos dormitórios ainda estão sendo
construídos, mas já estão ocupados por trabalhadores da Foxconn, mesmo sem
haver eletricidade ou elevadores.
O salário, de
cerca de 220 euros (cerca de R$ 605), é bem maior do que esses trabalhadores
conseguiriam trabalhando em suas províncias de origem. "Mas não chegamos a
receber isso. Descontam 14 euros do dormitório, 50 da refeição e mais dinheiro
do seguro", diz a mulher infiltrada.
A reportagem
conclui que as más condições de trabalho tem como origem o atendimento à
demanda de produção do iPhone 5. O smartphone é tido como mais difícil de ser
produzido quando comparado aos seus antecessores – tão difícil que a Foxconn
tem de contratar novos funcionários "incansavelmente" para substituir
os trabalhadores que deixam, "frustados", a linha de montagem.
A Foxconn não quis
comentar as imagens feitas pelo canal de TV francês. A Apple informou ao
programa que "as empresas subcontratadas são obrigadas a fornecer
condições de trabalho seguras, dignidade e respeito aos funcionários".
Reportagem "E-Germinal: Dans l'enfer
des usines chinoises":
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