Alimentação precária, alojamentos distantes da cidade,
dificuldade de comunicação com os familiares e ação ameaçadora de seguranças
armados no interior do canteiro de obras e nos alojamentos.
Este é o enredo relatado por parte de cerca
de 200 trabalhadores contratados pela empresa UFN3, que estavam
construindo a fábrica de fertilizantes nitrogenados da Petrobras, no município
de Três Lagoas.
Demitidos, em retaliação após uma greve por melhores
condições de trabalho, que começou no dia 17 de junho, os trabalhadores foram
trazidos a Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, na última quarta-feira
(3), com a promessa de pagamento das rescisões e embarque para os estados
de origem.
No entanto, após três dias hospedados em hotéis da
capital sul-mato-grossense, foram deliberadamente despejados dos hotéis nesta
sexta-feira (5), sem informação sobre o pagamento dos direitos trabalhistas e a
maioria com as carteias de trabalho retidas pela empresa.
Desalojados e sem dinheiro, os trabalhadores em sua
maioria provenientes dos estados do Maranhão, Piauí, Bahia e Rio Grande do
Norte, receberam o apoio do movimento sociais e sindical de MS, através da
CUT/MS (Central Única dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul), da FETRICOM
(Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário
de Mato Grosso do Sul), do SINTRACOM (Sindicato dos Trabalhadores da Construção
Civil de Campo Grande) e da FETEMS (Federação dos Trabalhadores em Educação de
Mato Grosso do Sul).
Após o despejo dos hotéis os trabalhadores foram
acolhidos na sede da FETEMS, por conta da estrutura, para serem tomadas as
devidas providências de alimentação, porque a maioria deles estava sem nenhum
recurso e sem comer desde manhã.
Movimentos cutistas na luta
De acordo com Genilson Duarte, presidente da CUT/MS, a
situação da terceirização em Mato Grosso do Sul é preocupante e é necessário
uma maior fiscalização dos órgãos governamentais. “Sabemos que os serviços
terceirizados só visam o lucro, através da exploração do trabalhador e é
justamente por isso que eles os trazem de longe, os iludem com proposta de bons
empregos e os transformam praticamente em “escravos”, vivendo em condições
sub-humanas. Essa não é primeira vez que acontece esse tipo de situação no
estado, em 1997, tivemos um caso parecido com os trabalhadores de uma usina de
álcool contratados na região nordeste e que depois precisaram ser resgatados.
Defendemos que o os trabalhadores já saiam de sua cidade de origem contratados
e que o procedimento seja fiscalizado por órgãos públicos”, disse.
Já Webergton Sudário, o Corumbá, presidente da FETRICOM,
ressaltou que os movimentos vão acompanhar o desenrolar da situação dos
trabalhadores. “Vamos cobrar da empresa o pagamento das cláusulas trabalhistas,
a passagem para os estados de origem e acompanhar o pagamento de todas as
rescisões”, afirma.
Para o presidente da FETEMS, Roberto Magno Botareli
Cesar, que interveio junto ao governador, André Puccinelli (PMDB), uma
intermediação política para a solução do impasse, a situação é alarmante e
indignante. “É inadmissível o que está acontecendo com os trabalhadores em Três
Lagoas, demitidos sem rescisão dos contratos. Essa situação é consequência
do sistema capitalista, que só visa lucros, através da mão de obra barata, a
terceirização de serviços é fruto do capitalismo e retrata a exploração indigna
do trabalho de brasileiros que sonham com uma vida melhor. Uma das coisas que o
Congresso em vez de combater, ajuda a fomentar no Brasil, pois é formado, na
maioria, por representantes de grupos empresariais que bancaram suas campanhas
"investindo" na defesa dos seus próprios interesses mercantilistas”,
ressalta.
Após a intervenção dos movimentos sociais e sindicais o
Auditor do Trabalho, Leif Naas, chefe da fiscalização do Ministério do
Trabalho, em Mato Grosso do Sul, os procuradores do trabalho, Hiran Sebastião
Meneghelli Filho e Leontino Ferreira de Lima Jr, estiveram na FETEMS.
Foi estabelecido um acordo entre os magistrados e
representantes da empresa. Segundo ficou acertado na segunda-feira (8), os
trabalhadores irão receber as rescisões. O procedimento será no
auditório da FETEMS.
Escrito por: Azael
Júnior e Karina Vilas Boas