quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

TOLEDO TEM ALTA INCIDÊNCIA DE TRABALHADORES COM LER

A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) afeta milhares de trabalhadores anuamente. Na região Oeste, em especial em Toledo, a doença do trabalho tem alta incidência devido ao elevado número de pessoas em atividades de risco, como nas indústrias da alimentação. Com objetivo de discutir sobre a patologia e incentivar a prevenção, um evento marcará o Dia Internacional do Combate à LER na cidade.
Conforme explica o presidente da Associação dos Portadores de Lesões por Esforços Repetitivos (AP LER), Laerson Vidal Matias, a LER é uma conjunto de doenças que tem causa no trabalho e entre vários agravos na saúde do trabalhador, é o mais frequente. “Até mais do que os acidentes típicos de trabalho, pois é a principal causa de afastamentos, redução da capacidade de trabalho e até auxílios doença e aposentadoria por invalidez pelo INSS”.
A doença é caracterizada por lesões nos sistemas músculo-esquelético e nervoso causadas por tarefas repetitivas, esforços vigorosos, vibrações, compressão mecânica ou posições desagradáveis por longos períodos. A Ler é um tipo de Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT).
Matias revela que a região Oeste possui números alarmantes da doença. “23% da mão de obra formal é ocupada pelos trabalhadores de frigoríficos, e grande parte acaba sendo vitimada pelo processo de trabalho”, explica ao revelar que o longo tempo de exposição aos fatores causadores da LER resulta em lesões. Ele revela que em Toledo há 500 trabalhadores associados à entidade, sendo que todos eles apresentam problemas graves, ou seja, a doença já avançada.

DEBATE
A associação está organizando um debate sobre o tema no dia 28, às 19h no mini-auditório da Unioeste em Toledo. Com o tema: Degradação anunciada do trabalho em frigoríficos no Oeste do Paraná, o evento é aberto ao público e gratuito.
“Teremos como palestrantes Fernando M. Heck, mestre em geografia pela Unesp e Vagner J. Moreira, doutor em História Social pela UFU e professor da Unioeste”, salienta ao revelar que eles contextualizarão a doença, com números oficiais e discutirão sobre as consequências, formas de prevenção, tratamento, entre outros detalhes sobre o tema.
PUBLICADO EM:

DENÚNCIA DE ESPIONAGEM ENVOLVE CONSÓRCIO CONSTRUTOR DE BELO MONTE

O Ministério Público Federal no Pará recebeu denúncia de que o Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) teria organizado esquema de espionagem contra movimentos sociais e sindicais que se opõem à construção da Hidrelétrica de Belo Monte. De acordo com o Movimento Xingu Vivo para Sempre, um empregado do consórcio foi flagrado infiltrado na reunião de planejamento realizada neste domingo (24), gravando o encontro com uma caneta espiã. Questionado, ele se disse arrependido e concordou em gravar o depoimento em vídeo (abaixo) detalhando sua atuação. Além disso, apresentou crachá e carteira profissional na qual consta o registro da empresa.
Procurada, a assessoria de imprensa do consórcio enviou a seguinte nota na tarde desta segunda (25): “O Consórcio Construtor Belo Monte, que até o momento não foi informado sobre o suposto fato, não tem como prática o envio de observadores a eventos promovidos por outros órgãos ou instituições”. Além do CCBM, o homem flagrado denunciou o envolvimento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que não se posicionou.
A matéria é da Repórter Brasil.



A procuradora Thais Santi Cardoso da Silva diz que ainda não foi decidido o encaminhamento que será dado ao caso, mas manifesta preocupação sobre a gravidade do que foi relatado. “Os movimentos sociais têm todo direito de reivindicar [a interrupção da obra] e essa atitude é extremamente preocupante”, afirma.
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O empregado do CCBM chegou a concordar na noite de domingo (24), em prestar depoimento ao MPF, mas depois voltou atrás e passou a negar tudo que havia dito.
Movimento sindical – Em sua denúncia, o empregado do consórcio diz ter começado a atuar como agente infiltrado no segundo semestre do ano passado em canteiros de obra para identificar lideranças operárias, de modo a desmobilizar novas greves. Antes disso, em março de 2012, após a morte de um trabalhador, uma greve geral paralisou os canteiros. Acredita que o trabalho que realizou desde então foi decisivo para a prisão dos cinco acusados de terem comandado a última revolta de trabalhadores nos canteiros de Belo Monte, ocorrida em novembro do ano passado, e na demissão de cerca de 80 trabalhadores.
Ele se infiltrou no Movimento Xingu Vivo em dezembro, beneficiado pela amizade de sua família com a coordenadora do movimento, Antonia Melo. Passou então a acompanhar reuniões e monitorar os participantes.
Flagrado na última reunião do grupo, afirmou estar arrependido, pediu desculpas a todos e prometeu ir a público denunciar a situação. Após gravarem o vídeo com o relato, representantes do movimento chegaram a acompanhá-lo a sua casa, onde ele apresentou registro profissional comprovando ser empregado do consórcio. Ele concordou em prestar depoimento no Ministério Público Federal no mesmo dia, porém, mais tarde mudou de ideia e passou a negar tudo que havia dito.
Segundo o movimento, em seguida, enviou a seguinte ameaça em uma mensagem por celular para um dos integrantes: “vocês me ameaçaram, fizeram eu entrar no carro, invadiram minha casa sem ordem judicial. Isso é que é crime. Vou processar todos do Xingu Vivo. Minha filha menor e minha mulher são minhas testemunhas. Sofri danos morais e violência física. E vocês vão se arrepender do que fizeram comigo”.
Responsabilidades - Antes de se arrepender de ter feito a denúncia, o trabalhador chegou a dar detalhes sobre o esquema de espionagem, informando inclusive o nome dos que o contrataram e detalhes sobre como o serviço era executado.
Em nota, o grupo afirma que “apesar da atitude criminosa” e de “não eximi-lo de sua responsabilidade”, “o Movimento Xingu Vivo para Sempre entende que o maior criminoso neste caso é o Consórcio Construtor Belo Monte, que usou de seu poder coercitivo e financeiro para transformar um de seus funcionários em alcaguete”. O grupo cobra a responsabilização da empresa e do governo federal devido à participação da Abin e diz que considera “inadmissível que estas práticas ocorram em um estado democrático de direito”.
Antes mesmo de o caso ser divulgado, em audiência pública realizada nesta manhã, deputados federais da Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico de Pessoas já haviam manifestado preocupação em relação ao que consideram perseguição de movimentos sociais na região. A sessão realizada em Altamira (PA) tinha como objetivo discutir e levantar informações sobre o caso de escravidão sexual de 14 pessoas denunciado na semana passada, que acontecia em uma boate vizinha a um dos principais canteiros de obras, em área declarada de interesse público para Belo Monte. Estiveram presentes os deputados federais Arnaldo Jordy (PPS), presidente da CPI, Cláudio Puty (PT) e José Augusto Maia (PTB).
Entre as principais reclamações e críticas dos movimentos que se opõem a hidrelétrica estão os impactos socioambientais previstos, o desmatamento e problemas técnicos no planejamento e execução do projeto. Os opositores defendem a interrupção da construção da barragem e têm seguidamente apresentado denúncias de problemas graves decorrentes da obra.
Texto atualizado, às 17h do dia 25 de fevereiro, para inclusão do posicionamento do Consórcio Construtor de Belo Monte.

http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/02/25/denuncia-de-espionagem-envolve-consorcio-construtor-de-belo-monte/

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MPT TENTA ACORDO COM MCDONALD'S PARA ACABAR COM JORNADA DE TRABALHO IRREGULAR


UOL



Representantes do MPT (Ministério Público do Trabalho) e da Arcos Dourados, dona de 75% das mais de 600 lojas do McDonald's no Brasil, realizam na tarde desta segunda-feira (25) uma reunião para tentar firmar um acordo sobre irregularidades trabalhistas detectadas pelos procuradores.

O objetivo é acabar com a jornada móvel variável entre os cerca de 40 mil funcionários da empresa. Esse tipo de contratação, segundo o MPT, é usado para reduzir custos e burlar direitos trabalhistas.

De acordo com os procuradores, o funcionário que assina o contrato de trabalho com a empresa não sabe qual é a sua jornada de trabalho nem por quanto tempo que ficará na loja. Como o trabalhador recebe por hora, muitas vezes o valor da remuneração no fim do mês é menor do que um salário mínimo.

"É muito humilhante e você faz de tudo. Eu não tinha salário fixo, às vezes recebia R$ 150 ou R$ 200 por mês", diz a ex-funcionária Adriana de Oliveira Pinto, 25, que pediu demissão e entrou com um processo individual contra a empresa.

A jornada móvel variável já foi discutida, em outros processos, no TST (Tribunal Superior do Trabalho), que considerou a prática ilegal por não permitir que o funcionário tenha qualquer outra atividade.

A reunião desta segunda tenta ainda um acordo para a fixação de uma indenização por dano moral coletivo pela prática irregular. A medida tenta antecipar ao julgamento de uma ação civil pública contra a Arcos Dourados, que tramita da Justiça Trabalhista de Pernambuco e pede R$ 30 milhões.

Caso as partes não entrem em um acordo nesta segunda, o MPT promete prosseguir com a ação civil em Pernambuco e ingressar com outras medidas judiciais em outros estados do país.

O encontro de hoje será o terceiro entre procuradores e representantes da empresa. Em reuniões anteriores, a Arcos Dourados pediu um prazo de até 2014 para que o problema seja resolvido ? o que não foi aceito pela Procuradoria.

Entre as irregularidades encontradas, o MPT ainda disse que os funcionários são proibidos de se ausentarem da loja durante o intervalo e que não podem ingerir outro alimento que não seja o fabricado pelo McDonald's. A pausa para refeição e descanso também varia diariamente, o que infringe a lei trabalhista.

Procurado pela reportagem, o McDonald's ainda não se pronunciou sobre o caso.



PUBLICADO EM: 

http://www.odocumento.com.br/materia.php?id=419998


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

ACIDENTE DE TRABALHO GERA PROTESTO NA GERDAU DE SAPUCAIA DO SUL



Cerca de 600 metalúrgicos na Gerdau  de Sapucaia do Sul (RS) cruzaram seus braços por aproximadamente duas horas, na manhã desta terça-feira (19), para protestar contra as condições inseguras de trabalho naquela fábrica. A manifestação foi organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo e Região, em função de um grave acidente de trabalho que aconteceu na madrugada de sábado, quando o operador de máquina de trefilação Ivanes dos Santos teve sua perna amputada. 






Conforme já vinha sendo debatido em reuniões da CIPA, a tragédia já era anunciada. O companheiro acidentado estava, assim como outros funcionários, sendo submetido a um regime de cargas exaustivas de trabalho devido a diminuição do quadro de trabalhadores e a redução de custos de operação. Muitos trabalhadores já vinham informando o Sindicato sobre a pressão da empresa para produzir cada dia mais, fazendo com que eles excedessem sua carga horária em mais horas do que o permitido, prejudicando assim seu próprio descanso e afetando sua saúde e segurança. 

O metalúrgico acidentado, de 43 anos de idade e 15 de empresa, trabalhava no regime 5 X 2. Portanto, era início de folga quando foi chamado para fazer hora extra. O incidente ocorreu durante o uso da máquina E-21, no setor de elétrica, enquanto o trabalhador procurava um defeito entre o setor solda, trifila e endireitadeira (amarrador e ponte), com o sistema MES (antigo CHIP).
 

Na manifestação desta terça-feira, o dirigente Valmir Lodi – coordenador da rede nacional sindical dos trabalhadores na Gerdau – destacou que não existe dinheiro que pague todos os momentos que foram ceifados da vida deste trabalhador, como coisas simples, mas tão significativas, como jogar futebol com um dos seus filhos.
 

O presidente do Sindicato, Jorge Corrêa, lembrou que havia trabalhado na empresa na década de 1980 e os problemas com segurança já eram recorrentes. Além dos dirigentes de São Leopoldo e região, também esteve presente o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, Paulo Chitolina. Os trabalhadores participaram do protesto dos lados de fora e de dentro da fábrica, já que um forte efetivo policial trancou as vias de acesso ao portão que o Sindicato estava, orientando quem chegava para entrar por outro portão.
 

Durante a paralisação, ficou decidido que o Sindicato e os trabalhadores vão cobrar medidas que aumentem a segurança, o respeito ao acordo de turnos e o combate ao assédio moral.
 

Após a manifestação, ocorreu uma reunião com a gerência de relações trabalhistas da Gerdau, na qual foram apresentados os pontos da unidade da Gerdau Sapucaia do Sul. Durante a reunião, o secretário de Políticas Sindicais da CNM/CUT, Loricardo Oliveira, falou sobre a importância de ser construído umcontrato coletivo nacional de trabalho das unidades da Gerdau. Ficou acertado que também será feita uma conversa em São Paulo com a gerência de relações trabalhistas da empresa.
 

Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo - 20/02/2013
http://www.mundosindical.com.br/sindicalismo/noticias/noticia.asp?id=11564

domingo, 17 de fevereiro de 2013

ESCRAVIDÃO SEXUAL CHEGA A BELO MONTE




Meninas foram atraídas no Sul, para “ganhar R$14 mil mensais” na grande obra. Viviam trancadas em cubículos sem janelas
Por Inês Castilho

Que junto a uma grande obra sempre brotará um prostíbulo, não é novidade. É uma questão de mercado, dirão. Toda grande concentração masculina, seja de peões, políticos ou empresários, atrai serviços sexuais femininos. De fato. Mas a denúncia trazida a público pela jornalista Verena Glass, da Repórter Brasil, vai além disso. Relata “escravas sexuais” trabalhando em boate dentro de um dos canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte – uma obra de responsabilidade do governo brasileiro.
São 14 mulheres e uma travesti, encontradas pela polícia civil de Altamira (PA) em situação de escravidão e cárcere privado. A operação policial, realizada na quarta-feira de cinzas (13.02), aconteceu depois de uma jovem de 16 anos fugir e fazer a denúncia ao Conselho Tutelar. Segundo a conselheira Lucenilda Lima, para chegar à boate foi preciso atravessar o canteiro de Pimental, um dos principais da usina. “Foi uma burocracia na entrada para a gente conseguir passar. E, lá mesmo, toda hora passavam os carros e tratores de Belo Monte, eu considero que a boate está na área da usina”.
As jovens, com 18 a 20 anos, vindas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, eram confinadas em pequenos quartos sem janelas, trancados por cadeado do lado de fora. Segundo o delegado, contaram que podiam ir à cidade de Altamira uma vez por semana, por uma hora, vigiadas pelos funcionários da ‘boate’. “Viemos em nove lá de Joaçaba (SC). Falaram que seria muito bom trabalhar em Belo Monte, que a gente ganharia até R$ 14 mil por mês, mas quando chegamos não era nada disso”, contou uma delas. Dois funcionários da boate foram presos, e os donos estavam sendo procurados. Além de exploração sexual de menor, cárcere privado e trabalho escravo, o caso poderá ser caracterizado como tráfico de pessoas – crime denunciado por Salve Jorge, a novela do momento.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

PAGAMENTO POR PRODUÇÃO ADOECE E MATA CORTADORES DE CANA, ADVERTE PESQUISADOR




07/02/2013- Informe da CUT nacional

Francisco Alves, da UFSCar, diz que esse sistema leva o trabalhador à exaustão, doença e morte.
por: Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual

Os atestados de óbito de cortadores de cana geralmente declaram razões desconhecidas ou parada cardiorrespiratória, segundo a Pastoral do Migrante de Guariba, no interior de São Paulo. Mas alguns deles podem trazer como causa um acidente vascular cerebral (derrame), edema pulmonar ou hemorragia digestiva, entre outras. No entanto, para Francisco da Costa Alves, professor e pesquisador do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), as mortes são o desfecho da exaustão causada pelo trabalho excessivo exigido pelo sistema de pagamento por produção. Antes de matar, o sistema provocou problemas respiratórios, musculares, sérias lesões nas articulações pelo esforço repetitivo, entre outros. “Essa forma de remuneração, que leva o cortador a trabalhar mais e mais, em longas jornadas, com alimentação e hidratação inadequadas, está na raiz do adoecimento e morte desses trabalhadores”, disse. 
Nesse sistema antigo, que já era criticado no final do século 18 por ser perverso e desumano, os trabalhadores recebem conforme produzem, tendo a responsabilidade pelo ritmo do seu trabalho. Ganham mais conforme a produção. Como trabalham pela subsistência, se submetem a esse ritmo cada vez mais intenso para melhorar suas condições de vida. 
Conforme Francisco Alves, que há mais de 20 anos pesquisa a produção no setor canavieiro, o excesso de trabalho pode ser demonstrado pela rotina dos bóias frias. Para a produção diária de seis toneladas, eles têm de cortar a cana rente ao solo para desprender as raízes; cortar a parte onde estão as folhas verdes, que por não ter açúcar não servem para as usinas; carregar a cana cortada para a rua central e arrumá-la em montes. Segundo o pesquisador, tudo isso é feito rápida e repetidamente, a céu aberto, sob o sol e calor, na presença de fuligem, poeira e fumaça, por um período que varia entre 8 e 12 horas. Para isso, eles chegam a caminhar, ao longo do dia, uma distância de aproximadamente 4.400 metros, carregando nos braços feixes de 15 quilos por vez, além de despender cerca de 20 golpes de facão para cortar um feixe de cana. Isso equivale a aproximadamente 67 mil golpes por dia. Isso tudo se a cana for de primeiro corte, ereta, e não caída, enrolada. Do segundo corte em diante, há mais esforço.
O gasto energético ao andar, golpear, agachar e carregar peso torna-se ainda maior devido à vestimenta com botina de biqueira de aço, perneiras de couro até o joelho, calças de brim, camisa de manga comprida com mangote de brim, luvas de raspa de couro, lenço no rosto e pescoço e chapéu, ou boné, quase sempre sob sol forte. Com isso, eles suam abundantemente, perdendo muita água e sais minerais. A desidratação provoca câimbras frequentes, que começam pelas mãos e pés, avançando pelas pernas até chegar ao tórax – as chamadas birolas. Provocam fortes dores e convulsões. Para tentar evitar o problema e garantir maior produção, algumas usinas distribuem soro fisiológico e, em alguns casos, suplementos energéticos. E há casos em que os próprios trabalhadores procuram um hospital na cidade, onde recebem soro na veia. 
“Ademais, o excesso de trabalho não é realizado apenas para alcançar esse salário, mas também para atingir as próprias metas fixadas pela usina (cerca de 10 a 15 toneladas diárias), a fim de garantir ao trabalhador que lhe seja oferecido a vaga na próxima safra. E, para que o trabalhador possa atingir essa meta, é obrigado a trabalhar invariavelmente cerca de 10 horas diárias, senão mais”, escreveu o juiz Renato da Fonseca Janon, da Vara do Trabalho de Matão, em sua sentença do final do ano passado que proibiu a Usina Santa Fé S.A., de Nova Europa, na região de Araraquara, a remunerar seus empregados do corte de cana por unidade de produção. A decisão, inédita, baseou-se em pesquisas coordenadas por Francisco Alves, além de outros pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para complicar, esse sistema de pagamento impede a adoção da norma regulamentadora (NR) 31, considerada um avanço para a segurança e saúde dos trabalhadores rurais por obrigar o uso de equipamentos de proteção individual. É o caso de óculos de proteção contra as cortantes folhas da cana, que causam muitos ferimentos nos olhos. Só que para serem limpos da poeira e da fuligem, exigem a interrupção da produção. 
Para Alves, a mudança do pagamento por produção para um salário fixo depende de um longo processo de discussão e reflexão da situação. Enquanto o fim do pagamento associado à produção representa saúde, envelhecimento digno e mais vida, muitos trabalhadores o entendem como redução dos ganhos. No entanto, cortadores mais velhos, que já não têm o mesmo vigor dos mais jovens, e mulheres, que têm outra jornada de trabalho em casa, aceitam ganhar um salário fixo mesmo que seja inferior ao que ganhariam por produção.
Segundo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo, os valores da tonelada de cana cortada variam entre R$ 3,80 e R$ 4. E o piso salarial mensal, regional, varia entre R$ 775 e R$ 840 para uma jornada semanal de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h20. “Para se sustentar e à sua família, o cortador de cana deveria ter um piso correspondente a pelo menos três salários mínimos (R$ 2.034)”, disse Roberto dos Santos, secretário geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de São Paulo (Fetaesp). De acordo com o dirigente, não há no momento nenhuma opção que permita ao trabalhador ganhar o suficiente. “É claro que seria mais vantajoso um piso salarial superior ao que se ganha por produção, mas essa forma de pagamento ainda é a que permite ganho maior e por isso os trabalhadores sempre se manifestam favoráveis a esse sistema.”
Os patrões propõem a mecanização do corte da cana, que elimina o problema, mas também acaba com os empregos. Estima-se que só em São Paulo sejam 200 mil os que perderão o trabalho. Por isso, Alves defende políticas de curto prazo, elaboradas pelo conjunto da sociedade, para a qualificação desses trabalhadores que ocuparão parte dos empregos na agricultura mecanizada. Só que não haverá vagas para todos: uma colheitadeira faz o serviço de 80 trabalhadores. Ele estimam ainda que, com a mecanização, 20% da terra hoje tomada pela cana em São Paulo não poderá mais ser usada com essa finalidade. “Uma alternativa é que os municípios, que têm o direito constitucional de decidir o que fazer com suas terras, decidam com seus moradores se vão destiná-las à produção de alimentos ou recompor florestas nativas, que permitem a recomposição de mananciais”, disse. “Outra é a reforma agrária, política pública mais barata, capaz de proporcionar trabalho e renda para esses trabalhadores da cana.”

AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NO TST TENTA ENCERRAR AÇÃO DE R$ 1 BILHÃO




Atualizado em 13/02, às 15h15.

Campinas (SP) - O Tribunal Superior do Trabalho (TST) realiza nessa quinta-feira (14), às 14 horas, audiência de conciliação entre o Ministério Público do Trabalho e as multinacionais Shell do Brasil (atualmente Raízen) e Basf S/A, na tentativa de firmar um acordo entre as partes para encerrar uma ação civil pública que tramita no judiciário há aproximadamente seis anos. Trata-se do maior processo já julgado pela justiça do trabalho, cujo valor indenizatório ultrapassa R$ 1 bilhão.
As empresas foram processadas no ano de 2007 pelo MPT em Campinas (SP) por expor trabalhadores a contaminantes de alta toxicidade, por um período de quase 30 anos. De 1974 a 2002, a Shell e a Basf (sucessora da primeira), mantiveram uma fábrica de pesticidas no município de Paulínia (SP). A planta foi interditada por ordem judicial e posteriormente foi desativada.
Na ação, o MPT pede que as multinacionais se responsabilizem pelo custeio do tratamento de saúde dos ex-trabalhadores e de seus filhos, além de pleitear uma indenização milionária por danos coletivos.
As empresas sofreram condenação em primeira instância, na 2ª Vara do Trabalho de Paulínia, e em segunda instância, no Tribunal Regional do Trabalho de Campinas.
As decisões determinam o custeio imediato do tratamento de saúde de ex-empregados, autônomos e terceirizados e os filhos destes que nasceram durante ou após a prestação de serviços, o que resulta em um número aproximado de 1 mil beneficiários.  
A condenação pecuniária soma a indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 761 milhões a um montante destinado aos trabalhadores, equivalente a R$ 64.500 para cada indivíduo, devido à protelação do processo por parte das empresas. As empresas recorreram no TST.
Por força de uma execução judicial provisória, a obrigação contida na sentença de custear o tratamento de saúde dos ex-trabalhadores e filhos passou a vigorar antes do trânsito em julgado, ou seja, as empresas devem cumpri-la antes mesmo do julgamento do recurso apresentado ao TST.
A audiência de conciliação terá o acompanhamento da Procuradoria Geral do Trabalho, por meio de um subprocurador-geral.

Manifestação

Cinquenta ex-trabalhadores estarão em Brasília para acompanhar a audiência de conciliação. Por volta das 8 horas, eles farão uma manifestação em frente à Corte, para dar visibilidade ao caso, por meio de panfletos e faixas.
Além do MPT, integram o processo o Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas e Região, a Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas (Atesq) e a Associação de Combate aos Poluentes (ACPO).

Entenda o caso

No final da década de 70 a Shell instalou uma indústria química nas adjacências do bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia. Em 1992, ao vender os seus ativos para a multinacional Cyanamid, começou a ser discutida a contaminação ambiental produzida pela empresa na localidade, até que, por exigência da empresa compradora, a Shell contratou consultoria ambiental internacional que apurou a existência de contaminação do solo e dos lençóis freáticos de sua planta em Paulínia.
A Shell foi obrigada a realizar uma auto-denúncia da situação à Curadoria do Meio Ambiente de Paulínia, da qual resultou um termo de ajuste de conduta. No documento a empresa reconhece a contaminação do solo e das águas subterrâneas por produtos denominados aldrin, endrin e dieldrin, compostos por substâncias altamente cancerígenas – ainda foram levantadas contaminações por cromo, vanádio, zinco e óleo mineral em quantidades significativas.
Após os resultados toxicológicos, a agência ambiental entendeu que a água das proximidades da indústria não poderia mais ser utilizada, o que levou a Shell a adquirir todas as plantações de legumes e verduras das chácaras do entorno e a passar a fornecer água potável para as populações vizinhas, que utilizavam poços artesianos contaminados.
Mesmo nas áreas residenciais no entorno da empresa foram verificadas concentrações de metais pesados e pesticidas clorados (DDT e drins) no solo e em amostras de água subterrâneas. Constatou-se que os “drins” causam hepatotoxicidade e anomalias no sistema nervoso central.
A Cyanamid foi adquirida pela Basf, que assumiu integralmente as atividades no complexo industrial de Paulínia e manteve a exposição dos trabalhadores aos riscos de contaminação até 2002, ano em que os auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) interditaram o local, de acordo com decisão tomada em audiência na sede do MPT. Apesar do recurso impetrado pela Basf, a interdição foi confirmada em decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região.
Em 2005, o Ministério da Saúde concluiu a avaliação das informações sobre a exposição aos trabalhadores das empresas Shell, Cyanamid e Basf a compostos químicos em Paulínia. O relatório final indicou o risco adicional aos expostos ao desenvolvimento de diversos tipos de doença.  No ano de 2007, o MPT ingressou com ação civil pública para garantir os direitos dos ex-trabalhadores ao custeio de tratamento de saúde, juntamente com uma indenização milionária.
No meio tempo, em razão de um TAC firmado perante o Ministério Público do Trabalho, o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Campinas examinou 69 ex-trabalhadores da Shell/Cyanamid/Basf e enviou um relatório, que foi juntado aos autos do inquérito, sobre os atendimentos realizados, cujo resultado apontou uma média de 6 diagnósticos por indivíduo analisado.
Dos 17 casos diagnosticados, 10, ou seja, 58,8% foram de neoplasia maligna, chamando atenção os cânceres de próstata e os de tireóide. Houve ainda um caso de síndrome mielodisplásica. Quanto às doenças endócrinas, o Cerest verificou que 67,9% dos diagnósticos foram dislipedimias somadas às doenças da glândula tireóide.
Dos 34 casos de doenças do aparelho circulatório, 21 foram casos de doenças hipertensivas. Dentre as doenças do aparelho digestivo, destacaram-se as doenças do fígado, além da ocorrência de casos de doença diverticular do cólon e um caso de metaplasia intestinal em esôfago. Em 30 casos houve predominância de Lesões por Esforços Repetitivos (LER), enquanto que 56 ex-trabalhadores apresentaram problemas sérios no aparelho gênito-urinário, com afecções da próstata, alterações de fertilidade e impotência sexual. Ainda houve exames em que o diagnóstico final não foi comprovado, mas apresentaram alterações.
Desde o ajuizamento do processo já foram registrados mais de 60 óbitos de ex-trabalhadores.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O CUSTO OCULTO DOS HIPERMERCADOS





Esther Vivas
do blog Público.es
Traduzido por Natália Mazotte, do Canal Ibase

A abertura de um grande centro comercial, um supermercado… sempre vem associada à promessa de criação de emprego, dinamização da economia local, preços acessíveis e, definitivamente, ao progresso. Mas será esta a realidade? A distribuição comercial massiva se sustenta em uma série de mitos que, geralmente, sua prática desmente.
A Associação Nacional de Grandes Empresas de Distribuição (ANGED), o patronal da grande distribuição, que agrupa empresas como Alcampo, El Corte Inglês, FNAC,Carrefour, Ikea, Eroski, Leroy Merlin, entre outras, acaba de impor um novo e duro acordo a seus 230 mil empregados. A partir de agora, trabalhar no domingo equivalerá a trabalhar em um dia de semana, e aqueles que até o momento estavam isentos por motivos familiares, também terão que fazê-lo. Desse modo, fica ainda mais difícil conciliar a vida pessoal/familiar com a profissional, em um setor onde a maioria dos trabalhadores é formada por mulheres.
Além disso, aplica-se a regra de ouro do capital, trabalhar mais por menos: amplia-se a jornada de trabalha e diminui-se o salário. Da mesma forma, se as vendas caírem para abaixo do registrado em 2010, salários serão cortados em 5%. Chover no molhado em um setor por si só já extremamente precário. A ANGED, por sua vez, considera que “o acordo reflete o esforço de empresas e trabalhadores para manter o emprego”. Mas que emprego?
E agora Caprabo, propriedade de Eroski, anuncia que quer demitir 400 trabalhadores, não aplicar o aumento salarial pactuado e cortar em 20% os salários de parte de seus funcionários. A culpada? A “previsível” queda nas vendas e a crise. No ano passado, curiosamente, a empresa anunciou que em 2011 seus lucros haviam aumentado 12%. A santa crise “resgata” de novo a empresa.
Nesse contexto, supermercados e criação de emprego parecem muito mais um paradoxo. São vários os estudos que observam como a abertura destes estabelecimentos implica, consequentemente, o fechamento de lojas e comércio locais e, portanto, a perda de postos de trabalho. Assim, desde os anos 80, e na medida em que a distribuição moderna se consolidava, o comércio tradicional sofria uma erosão constante e incontrolável chegando a ser hoje em dia quase residual. Se em 1998 existiam 95 mil lojas, em 2004 este número foi reduzido a 25 mil, segundo dados do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente.
E se o pequeno comércio diminui, o mesmo ocorre com a renda da comunidade, já que a compra em uma loja de bairro repercute em maior medida na economia local do que a compra em uma grande rede varejista. Segundo um estudo de Friends of the Earth(2005), na Grã Bretanha , 50% dos lucros do comércio em pequena escala retorna ao município, normalmente através da compra de produtos locais, salários dos trabalhadores e dinheiro gasto em outros negócios, enquanto que empresas da grande distribuição reinvestem apenas insignificantes 5%.
Ademais, devemos nos perguntar que tipo de emprego os supermercados, redes de desconto e hipermercados fomentam. A resposta é fácil: jornadas de trabalho flexíveis, contratos a tempo parcial, salários baixos e tarefas rotineiras e repetitivas. E o que acontece se alguém decide se organizar em um sindicato e lutar por seus direitos? Se o contrato de trabalho for precário, é melhor ir se despedindo do seu trabalho. Wal-Mart, o gigante do setor e a multinacional com o maior número de trabalhadores no mundo todo, é o exemplo por excelência. Seu slogan “Sempre preços baixos”, pode ser substituído por “Sempre salários baixos”. E não só isso, um estudo sobre o impacto do Wal-Mart no mercado de trabalho local, de 2007, concluía que por cada posto de trabalho criado pelo Wal-Mart, 1,4 postos de trabalho eram destruídos nos negócios preexistentes.
Mas as consequências negativas da grande distribuição para os que participam da cadeia de produção, distribuição e consumo não acabam aqui. Desde os agricultores, que são os que mais perdem com as grandes varejistas, obrigados a acatar condições comerciais insustentáveis e que os condenam à desaparição, até consumidores instados a comprar para além de suas necessidades produtos de má qualidade e não tão baratos quanto parecem, até um tecido econômico local que se fragmenta e descompõe. Este é o paradigma de desenvolvimento que promovem os supermercados, de onde a grande maioria de nós sai perdendo enquanto uns poucos sempre ganham.

MAIS DE 2 MIL PESSOAS FORAM LIBERTADAS DA ESCRAVIDÃO EM 2012

Pará é o estado com mais libertados. Ano foi marcado por resgates em siderurgicas, usina de cana com selo "Amiga da Criança" e áreas das familias da senadora Kátia Abreu e do banqueiro Daniel Dantas


Por Verena Glass



Estabelecimentos flagrados com escravos em 2012
1. Pará (PA) ....................34
2. Tocantins (TO) .............16
3. Goiás (GO)....................9
4. Amazonas (AM)..............8
    Mato Grosso (MT) ..........8
    Maranhão (MA)..............8
    Piauí.............................8
8. Paraná (PR)...................7
    São Paulo (SP)..............7
10. Minas Gerais MG)........6 11.Bahia............................5
    Mato Grosso do Sul (MS).5     Santa Catarina (SC) ......5
14. Espírito Santo (ES) .......2
    Rio de Janeiro (RJ).........2
    Rio Grande do Sul..........2 
    Rondônia......................2
O Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) encerrou o ano de 2012 contabilizando a libertação de 2.094 trabalhadores de condições análogas à escravidão. Os resgates ocorreram em 134 estabelecimentos, entre fazendas, carvoarias, canteiros de obra, oficinas de costura e outros, conforme levantamento feito com base em informações sobre operações de resgate (clique aqui para baixar os dados referentes às operações de 2012e dos anos anteriores).

Apesar da dificuldade de identificar com precisão as atividades de todos os estabelecimentos flagrados, a partir dos registros na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae, instrumento de padronização de códigos de atividades econômicas utilizado pelos diversos órgãos de administração tributária do país) é possível estimar que o padrão detectado nos anos anteriores se manteve em 2012: a pecuária apresentou, de longe, o maior número de resgates de trabalhadores escravos, seguida por atividades ligadas ao plantio e extração de madeira e pelo carvão. Ou seja, 56 libertações ocorreram em fazendas de criação - ou com registro de criação - de gado, 21 em empreendimentos de plantio (ou com registro) de eucalipto, pinus e exploração de madeira, e 16 em carvoarias. 

Outro setor que teve número significativo de casos de trabalho escravo foi a sojicultura. Ao mesmo tempo em que a área de soja plantada em terras recém-desmatadas na Amazônia saltou de 11,69 mil ha para 18,41 mil ha na safra 2011/2012 (um aumento de 57%) de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, em 2012 o Grupo Móvel resgatou 144 trabalhadores em 10 fazendas de soja ou com registro de produção do grão.

O Pará é o estado em que mais operações foram realizadas e onde aconteceram mais flagrantes, conforme tabela ao lado. 

Casos emblemáticos

A libertação recorde de 2012 ocorreu no setor do carvão, e envolveu três das maiores siderúrgicas do Pará. Em março, o Grupo Móvel resgatou 150 pessoas de duas carvoarias em Novo Repartimento, que abasteciam as siderúrgicas Sidepar, Cosipar e Ibérica. De acordo com a fiscalização, os trabalhadores desmatavam a região ilegalmente para fabricar o carvão, e a operação acabou descobrindo um esquema de crimes ambientais, emissão de notas fiscais falsas e até ameaças a trabalhadores. Foram lavrados 21 autos de infração e um processo contra as três siderúrgicas, mas, como as empresas formaram um consórcio, a fiscalização responsabilizou a Sidepar pelo crime de escravidão.


Outra siderúrgica autuada por prática de trabalho escravo foi a Viena, de Darcinópolis, também no Pará. No final de outubro, uma fiscalização libertou 89 pessoas que trabalhavam no corte de eucalipto e produção de carvão na fazenda Vale do Canoa III, de propriedade as siderúrgica. De acordo com os fiscais, os trabalhadores viviam em condições péssimas de higiene, não tinham energia, água potável, banheiros, área de vivência, transporte adequado, nem equipamentos de proteção individual.

Uma das maiores produtoras e exportadoras de ferro-gusa do Brasil, a Siderurgica Viena - que também é dona da Fazendas Reunidas Agroindustrial, em Pirapora (MG), e da marca de cachaça Pirapora - exporta, segundo informações de seu site, para os mercados europeu, asiático e estadunidense. Tanto a Viena quanto a Sidepar são signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e podem ser suspensas devido aos flagrantes.

A segunda maior libertação ocorreu na única usina de cana flagrada com trabalho escravo no ano passado. Em setembro, a fiscalização do MTE e do Ministério Público do Trabalho resgatou 125 trabalhadores da usina Sabaralcool S/A Açúcar e Álcool, em Perobal, no Paraná, de uma situação descrita como "grave demais". Contratados pelos chamados "gatos" (intermediadores de mão de obra), trabalhadores da Bahia, Pernambuco e Maranhão foram submetidos a péssimas condições de alojamento, transporte e alimentação, eram obrigados a comprar seus próprios instrumentos de trabalho, a contrair dívidas com os contratantes e o comércio local e a trabalhar aos domingos, não tinham descanso mínimo de uma hora durante as jornadas de trabalho, e não tinham o menor controle sobre o pagamento.
A Sabaralcool, que detém o selo de "empresa Amiga da Criança", pertence à família do empresário Ricardo Albuquerque Rezende, falecido em março último. Rezende havia sido presidente da Associação Paranaense dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar) por três mandatos e, antes de sua morte, ocupava o posto de vice-presidente da entidade. Também foi diretor do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). De acordo com a fiscalização, a usina já havia sido notificada por problemas trabalhistas em 2007, ano em que foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta. A situação encontrada em 2012, além de muito grave, se caracterizou como "fraude deliberado do TAC", afirmaram os fiscais. 

Mulher grávida trabalhava da Sabaralcool, usina que tem o selo empresa Amiga da Criança. Foto: Divulgação/MTE
Setor têxtil

No setor de vestuário, em 2012 foram libertados 32 trabalhadores que costuravam para as grifes Gregory e Talita Kume  e para a confecção WS Modas Ltda (fornecedora da Gregory e dona da marca Belart). Dada a notoriedade das marcas, estes resgates tiveram grande repercussão na opinião pública. Na semana em que foi divulgada a ligação da Gregory com exploração de trabalhadores, dezenas de pessoas se manifestaram protestando na pagina do Facebook da empresa - que, assim como Marisa, Pernambucanas e Zara, autuadas por trabalho escravo em anos anteriores, foi convocada para depor em oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Trabalho Escravo. Já a Talita Kume se apressou em incluir em seu site uma página onde promete cumprir normas trabalhistas.


Jovem costurava para Gregory com filho recém-nascido no colo. Foto: Bianca Pyl


Já no setor de construção civil, 136 operários foram resgatados em fiscalizações nas empresas Racional Engenharia Ltda

 (trabalho na ampliação do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na região da Avenida Paulista) em São Paulo, Construtora Croma Ltda (obras de um conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo - CDHU) em Bofete (SP), Construtora Central do Brasil (obras da duplicação da rodovia federal BR-060, projeto do PAC) em Indiara (GO), e Brookfield Centro-Oeste Empreendimentos Imobiliários, em Goiânia. Além disso,12 trabalhadores foram libertados na fazenda de João Pedro Pereira, em Barra do Piauí (PI), onde construíam instalações na propriedade.

Outros dois casos de 2012 receberam destaque por envolver as famílias da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) - cujo irmão, André Luiz de Castro Abreu, foi apontado pela Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Tocantins como co-proprietário da Fazenda Água Amarela (plantio de eucalipto e produção de carvão), onde foram resgatados 56 trabalhadores -, e do banqueiro Daniel Dantas - cuja irmã, Verônica Dantas, e ex-cunhado, Carlos Bernardo Torres Rodenburg, são proprietários da Agropecuária Santa Bárbara, em São Felix do Xingu (PA), onde foram libertados quatro trabalhadores.

Por fim, vale relembrar ação realizada em agosto na fazenda de gado Alô Brasil, em Marabá (PA), que foi acompanhada por quatro deputados da CPI do Trabalho Escravo e resultou na libertação de oito trabalhadores. Na ocasião, o deputado federal Giovanni Queiroz (PDT/PA), integrante da bancada ruralista (que costuma contestar a existência de trabalho escravo no país) considerou a situação "vergonhosa, constrangedora"