Meninas foram atraídas no Sul, para “ganhar R$14
mil mensais” na grande obra. Viviam trancadas em cubículos sem janelas
Por Inês Castilho
Que junto a uma grande obra sempre brotará um
prostíbulo, não é novidade. É uma questão de mercado, dirão. Toda grande
concentração masculina, seja de peões, políticos ou empresários, atrai serviços
sexuais femininos. De fato. Mas a denúncia trazida a público pela
jornalista Verena Glass, da Repórter Brasil, vai além disso. Relata
“escravas sexuais” trabalhando em boate dentro de um dos canteiros de obras da
hidrelétrica de Belo Monte – uma obra de responsabilidade do governo
brasileiro.
São 14 mulheres e uma travesti, encontradas pela
polícia civil de Altamira (PA) em situação de escravidão e cárcere privado. A
operação policial, realizada na quarta-feira de cinzas (13.02), aconteceu
depois de uma jovem de 16 anos fugir e fazer a denúncia ao Conselho Tutelar.
Segundo a conselheira Lucenilda Lima, para chegar à boate foi preciso
atravessar o canteiro de Pimental, um dos principais da usina. “Foi uma
burocracia na entrada para a gente conseguir passar. E, lá mesmo, toda hora
passavam os carros e tratores de Belo Monte, eu considero que a boate está na
área da usina”.
As jovens, com 18 a 20 anos, vindas do Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, eram confinadas em pequenos quartos sem
janelas, trancados por cadeado do lado de fora. Segundo o delegado, contaram
que podiam ir à cidade de Altamira uma vez por semana, por uma hora, vigiadas
pelos funcionários da ‘boate’. “Viemos em nove lá de Joaçaba (SC). Falaram que
seria muito bom trabalhar em Belo Monte, que a gente ganharia até R$ 14 mil por
mês, mas quando chegamos não era nada disso”, contou uma delas. Dois
funcionários da boate foram presos, e os donos estavam sendo procurados. Além
de exploração sexual de menor, cárcere privado e trabalho escravo, o caso
poderá ser caracterizado como tráfico de pessoas – crime denunciado por Salve
Jorge, a novela do momento.
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