Autoridades
tentaram negociar ajustamento de conduta antes de decidir acionar 26 empresas
na Justiça. No total, indenização por danos ambientais pode chegar a mais de
R$550 milhões
Por Stefano
Wrobleski
O Ministério
Público Federal decidiu, com base em operação conjunta feita com diferentes
entidades de fiscalização do Governo, processar na Justiça 26 frigoríficos, que
estariam se beneficiando da compra e comercialização de bois criados em
fazendas irregulares no Amazonas, Mato Grosso e Rondônia às custas de
devastação florestal, trabalho escravo e violação de direitos indígenas. No
total, as ações pedem o pagamento de quase R$557 milhões por danos ambientais
decorrentes do comércio de 55 mil bois criados nas fazendas autuadas.
Além do MPF,
participaram da operação Ibama, Ministério Público do Trabalho (MPT) e
Ministério Público (MP) no Amazonas e Rondônia. As entidades fizeram um
mapeamento da cadeia produtiva da carne e identificaram os frigoríficos a
partir do cruzamento de dados públicos com informações sobre a localização de
fazendas dentro de terras indígenas, os embargos do Ibama por desmatamento
ilegal e a relação das propriedades que estão na lista suja do trabalho
escravo.
Antes de acionar
as empresas, o MPF tentou negociar um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para que
os grupos se comprometessem a comprar matéria-prima de produtores que não
incidissem em irregularidades. Em todo o Brasil, cerca de cem frigoríficos já
assinaram acordos semelhantes para regularizar suas situações
socioambientais. Entre as empresas processadas está a gigante Brasil
Foods, dona de marcas Sadia, Perdigão e Batavo. Confira nos links a seguir e ao
final desta reportagem a lista completa dos frigoríficos processados no Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.
Em 2012 a Repórter
Brasil acompanhou, em uma investigação, os problemas de oito plantas
frigoríficas da Brasil Foods – além de outras 16 da JBS e Marfrig. Entre os
problemas constatados estão a alta incidência de problemas de saúde, a
realização de atividades de risco, as baixas indenizações por acidentes de
trabalho e a falta de uma legislação específica para o setor. O resultado está
no especial Moendo Gente. O projeto dá continuidade à pesquisa
desenvolvida pelaRepórter Brasil para a realização do premiado
documentário Carne, Osso – O Trabalho em Frigoríficos.
Outro projeto que também dá continuidade a essa pesquisa é o caderno temático
de mesmo nome da reportagem especial desenvolvido pelo programa “Escravo, Nem
Pensar!”.
Como parte do
processo de mapeamento de cadeia produtiva e de responsabilidade, o MPF também
pretende comunicar as principais redes de supermercado e fast food do país para
que controlem a origem dos produtos que comercializam.