Em entrevista concedida à TV Carta Maior, o professor da Unicamp Ricardo
Antunes, pesquisador do campo da sociologia do trabalho, falou sobre o polêmico
Acordo Coletivo Especial (ACE), projeto que permite que o negociado entre
sindicato e empresa tenha mais valor do que o legislado, a nova organização do
trabalho e sua relação com a lógica do capitalismo financeiro.
São Paulo - Em entrevista concedida durante o evento Marx: a Criação
Destruidora, promovido pela Boitempo Editorial, o professor da
Unicamp Ricardo Antunes, especialista e pesquisador de sociologia do trabalho,
falou à TV Carta Maior sobre as novidades no campo do trabalho
e do sindicalismo, como o polêmico Acordo Coletivo Especial (ACE), a nova
organização do trabalho e sua relação com a lógica do capitalismo financeiro.
Em relação ao Acordo Coletivo Especial
(ACE), proposto pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Ricardo Antunes lembrou
que “várias categorias de trabalhadores são contrários [ao ACE] porque o
princípio do negociado se sobrepondo ao legislado acaba com os direitos sociais
do trabalho”.
Segundo cartilha publicada pelo
sindicato filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), “a CLT exerce um
controle excessivo e com regras engessadas sobre as relações trabalhistas”. O
projeto atualmente em trâmite na Câmara dos Deputados define que os sindicatos
devem demonstrar que representam mais da metade da categoria (em número de
trabalhadores filiados) e manter um comitê sindical no interior da empresa com
a qual pretendem negociar, para obter prevalência do negociado sobre o
legislado.
Para o pós-doutor em sociologia do
trabalho, "os sindicatos mais enfraquecidos serão pressionados pelo
patronato - imagine os operadores de telemarketing, comerciários - a negociarem
abaixo da CLT. É uma concepção neocorporativa dos sindicatos, não pensa na
classe, mas numa parte isolada da classe", defendeu Ricardo Antunes.
Perguntado sobre um possível
descompasso entre o sindicalismo e as novas demandas do mundo do trabalho,
Ricardo disse que há “uma nova morfologia da classe trabalhadora. Numa empresa,
hoje, você tem o trabalhador estável e o trabalhador instável, o terceirizado
com direito e o terceirizado sem direito, o trabalhador part-time e o
full-time. Para o sindicato representar tudo isso, ainda mais o sindicato
herdeiro da fase fordista e taylorista, é difícil”, afirmou.
O professor, no entanto, pontua ganhos
na luta dos trabalhadores - a entrada dos empregados e empregadas domésticos na
vigência da Consolidação das Leis de Trabalho - e não pensa que os sindicatos
desaparecerão “Os sindicatos têm sabido enfrentar desafios e alguns deles têm
oferecido respostas inclusive no cenário mundial”, afirmou.
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