quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A GREVE NO SETOR PÚBLICO E O REACIONARISMO DO GOVERNO





Mal acabado a greve dos servidores públicos federais, o governo tira da gaveta o projeto que regulamentaria a greve no serviço público e vem com fôlego reacionário.
Se no vácuo legislativo o STF entendeu cabível a Lei de Greve geral, que serve para os trabalhadores do setor privado, agora pretende o governo engessar o servidor público, ao ponto de negar este direito constitucional básico do trabalhador.
Ao instituir o corte do ponto e a possibilidade de substituição dos servidores por terceirizados, o governo impede qualquer possibilidade de deflagração de greve. E o resultado é claro: a estagnação dos direitos trabalhistas dos servidores públicos.
E mais, tomam esta posição em total desencontro com a Convenção 151 da OIT.  A propósito, o governo federal tem sido costumeiro violador de normas e convenções coletivas sobre direitos humanos.

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AGROTÓXICO NA ALIMENTAÇÃO: SINAL VERMELHO.

Texto: frei Gilvander Luís Moreira


 “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Fez questão de registrar o/a autor/a do quarto evangelho da Bíblia. Sendo vegetariano e mantendo viva a comida de verdade, que é a da mãe, da avó, da bisavó..., o povo dos Macabeus - relata a Bíblia - resistiu à invasão cultural do imperialismo grego que insistia em enfiar goela abaixo “carne de porco para todo mundo”. Para o povo da Bíblia “comer carne de porco” era trair a herança de muitas lutas libertárias. Hoje, seria empanturrar-se no Mac Donalds. Hipócrates dizia: “que o alimento seja seu melhor remédio.” Mas hoje é preciso acrescentar: que alimentos saudáveis, colhidos dentro do paradigma da agroecologia, seja nosso melhor remédio. Tristemente, o veneno está na mesa do povo brasileiro, denuncia o cineasta Sílvio Tendler no Filme-documentário “O veneno está na mesa”.

 Diz a sabedoria popular que peixe morre pela boca, mas não só peixe, no Brasil, muita gente está sendo morta antes do tempo pelo agronegócio. A indústria dos agrotóxicos, grandes produtores, comerciantes e muita gente que não tem compromisso com a vida está envenenando a alimentação do povo.

 Li atentamente as 192 páginas do Relatório do Deputado Padre João Carlos (PT/MG), da Subcomissão Especial sobre o Uso dos Agrotóxicos e suas Consequências à Saúde, instalada em maio de 2011 e integrante da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. Fiquei estarrecido. A situação é muito mais grave do que imaginamos. Epidemias avassaladoras de câncer e tantas outras doenças estão send o construídas com incentivo/cumplicidade/omissão do Estado (= Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), protagonismo da classe dominante e omissão/resignação de grande parte da sociedade. 

 O objetivo geral da referida Subcomissão foi o de “avaliar os processos de controle e usos dos agrotóxicos e suas repercussões na saúde pública.” Brasil, país celeiro do mundo, atualmente ocupa a primeira posição no valor despendido com a aquisição de substâncias agrotóxicas em todo o mundo. O Brasil se tornou a nação que mais consome agrotóxicos no mundo. Paralelamente ao aumento no consumo, alavancado por uma política econômica estúpida que visa incluir pelo consumo, como se o ser humano fosse só “estômago”, está comprovado pelo Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos – PARA -, da ANVISA: a) a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos acima dos limites máximos “recomendados”, não por quem come, mas pelo deus mercado que só pensa em lucrar, lucrar; b) a presença em muitos alimentos de venenos não permitidos. Afora isso, nas fiscalizações junto às empresas produtoras de agrotóxicos observa-se, recorrentemente, muitas irregularidades.

 Assim, estão sendo contaminados o solo, as águas e o ar, Doenças se multiplicam em progressão geométrica. O envenenamento da comida está sendo perpetrado pelo uso exagerado de agrotóxicos, pelo emprego de venenos não recomendados para determinadas culturas, ou ainda pelo desrespeito ao intervalo de “segurança (?)” (período mínimo entre a última aplicação e a colheita).

 Apenas no ano de 2010 foram comercializados mais de um milhão de toneladas (= 1 bilhão de quilos) de agrotóxicos em todo o território nacional. Desse total, 750 mil toneladas foram produzidas no País, sendo o restante importado, cerca de 318 mil toneladas. Esses dados são oficiais. Ao incluir o comércio clandestino de agrotóxico, o contrabandeado, a quantidade deverá ser bem maior. Cada pessoa está ingerindo, em média, 5,2 quilos de agrotóxico por ano. Haja estômago! O crescimento do consumo de agrotóxicos no mundo aumentou quase 100%, entre os anos de 2000 e 2009. No Brasil, a taxa de crescimento atingiu quase 200%, o que indica que teremos no mínimo o dobro de pessoas doentes em relação à média mundial. Atualmente existem 2.195 agrotóxicos registrados no Brasil, mas só 900 são comercializados. Ou seja, além dos já comercializados, outros 1.295 tipos de agrotóxicos podem entrar mercado a qualquer hora. Os registros são de titularidade de apenas 136 empresas diferentes, ou seja, poucas grandes empresas auferem muita grana envenenando a alimentação do povo. São cerca de 430 ingredientes ativos registrados. A comercialização desses produtos no país movimentou recursos da ordem de 14,6 bilhões de reais, somente no ano de 2009. Quantas pessoas adoeceram? Quantas morreram? Quanto o povo tem gasto, via SUS, para tentar socorrer as vítimas dos agrotóxicos?  Já existem fortes indícios de que o uso dos agrotóxicos provoca câncer e outras doenças graves. Relatório da ANVISA (2010) informa que foram encontrados 234 ingredientes ativos de agrotóxicos em hortaliças, frutas e leguminosas. Em “todas” as espécies testadas foram utilizados agrotóxicos não autorizados. No pimentão, por exemplo, no ano de 2009, 64,8% das amostras testadas revelaram a presença de agrotóxicos não autorizados.

 Atenção: Por “ser agrotóxico autorizado” não garante que não faça mal à saúde. Todo agrotóxico é substância química, é tóxico. No Município de Lucas de Rio Verde, em Mato Grosso, constatou-se a contaminação do leite materno, das águas da chuva, do solo e até do ar. Estima-se que, a cada ano, 25 milhões de trabalhadores são contaminados com agrotóxicos apenas nos países empobrecidos.

 O Relatório põe o dedo na ferida: “A incidência de câncer em regiões produtoras de Minas Gerais, que usam intensamente agrotóxicos em patamares bem acima das médias nacional e mundial, sugere uma relação estreita entre essa moléstia e a presença de agrotóxico. Neste estado, na cidade de Unaí, está sendo construído um Hospital do Câncer, em virtude da grande ocorrência desta doença na região. Segundo os dados apresentados na Ausculta Pública que realizamos nesse município, já estão ocorrendo cerca de 1.260 casos/ano/100.000 pessoas. A média mundial não ultrapassa 400 casos/ano/100.000 pessoas.” Ou seja, se não houver uma redução drástica no uso de agrotóxico, daqui a 10 anos, poderá ter na cidade de Unaí, mais de 12.600 pessoas com câncer, sem contar o grande número de pessoas que já contraíram câncer. Onde já se viu uma cidade com apenas 100 mil habitantes ter Hospital do Câncer? Eis um sinal dos tempos e do lugar! Feliz quem entender a gravidade desse sinal vermelho. Várias leis já foram criadas para tratar dos agrotóxicos: Lei nº 7.802/1989, Lei nº 9.974/2000, Lei nº 11.657/2008, institui o dia 18 de agosto como o Dia Nacional do Campo Limpo; Lei nº 6.938/81, referente a Política Nacional de Meio Ambiente e a Lei nº 12.305/10, referente a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Essas leis são dribladas o tempo todo, além de serem “generosas” com a indústria dos agrotóxicos, o que fere mortalmente dignidade humana e toda a biodiversidade.

 Padre João Carlos afirma no Relatório: “O uso de agrotóxicos representa uma série de riscos à pessoa humana, à saúde humana, ao meio ambiente, fato que já é de conhecimento geral. Quando o uso é indiscriminado, tais riscos são muito mais elevados e não podem ser relegados, nem pela sociedade, muito menos pelo Poder Público, em especial pelos órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização de tais produtos.”  A aplicação de agrotóxicos contamina os trabalhadores, as populações que residem nas áreas periféricas às lavouras, os alimentos, os cursos d’água, enfim todo o ambiente. O sinal vermelho do agrotóxico acendeu-se. Feliz quem abraçar pra valer a luta pela construção de reforma agrária com agricultura familiar segundo o paradigma da agroecologia, caminho para produção de alimentos saudáveis e vida em plenitude.


Belo Horizonte, MG, Brasil, 20 de agosto de 2012.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Parte da obra da UHE Santo Antônio é suspensa após 2ª morte de operário


Carpinteiro foi atingido por uma chapa de aço e morreu.Trabalhadores deverão passar por novo treinamento, diz superintendência.



Após o segundo registro da morte de um trabalhador, nesta terça-feira (21), na obra da Usina Hidrelétrica (UHE) Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, a Superintendência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego de Rondônia suspendeu as atividades na área do Grupo Gerador 4, onde ocorreu o acidente, até que o consórcio faça um novo treinamento com os trabalhadores do setor. Desde quinta-feira (16), cinco máquinas e quatro frentes de trabalho estão interditadas, após a morte de um operário, que caiu de uma estrutura de 50 metros de altura.
Segundo o Consórcio Construtor Santo Antônio, responsável pela obra, o carpinteiro Claudemir Domingos Antônio foi socorrido após ter sido atingido por uma chapa de aço nesta terça-feira (21), mas morreu no hospital.
Na manhã desta quarta-feira (22), auditores-fiscais da superintendência visitaram o local do acidente para dar início as investigações. “Na hora da montagem, uma chapa de aço de 600 quilos caiu em cima do trabalhador. Ainda não sabemos o motivo do acidente, mas no momento temos que suspender as atividades e saber porque ouve esse desequilíbrio da peça em cima do rapaz”, explica o chefe do Núcleo de Segurança e Saúde da Superintendência Regional do Ministério do Trabalho, Bianor Salles.
O termo de suspensão vai estar em vigência até que o consórcio realize um novo treinamento com os trabalhadores da área de montagem das chapas, segundo Bianor.


50 metros
Este é o segundo caso de morte de trabalhador dentro do canteiro de obras da UHE Santo Antônio, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Na terça-feira (14), o armador Derick de Almeida da Silva caiu de uma altura de 50 metros na área de montagem do Grupo Gerador II por falta de isolamento da área de circulação.
De acordo com o consórcio, a "equipe de Assistência Social do Consórcio está prestando todo o apoio e solidariedade aos familiares de Claudemir. O acidente foi comunicado às autoridades competentes e o Consórcio está disponibilizando o apoio de suas equipes para a averiguação das causas do acidente juntamente com as autoridades competentes".

Publicado no G1:





sábado, 18 de agosto de 2012

PARA ONDE VÃO AS NOSSAS UNIVERSIDADES

Por: RICARDO ANTUNES

O ProUni fortaleceu faculdades de fachada. Já as federais, agora produtivistas, não têm nem prédios. Mas vozes privatistas, "de mercado", criticam a greve 

A expansão do ensino superior durante os governos Lula e Dilma foi quantitativamente ampla, tanto para as universidades públicas quanto para as privadas.
O primeiro grupo vivenciou uma expansão dos campi muito significativa, através da profusão de cursos -muitos dos quais, entretanto, pautados pela razão instrumental, de qualidade duvidosa e em sintonia com a era da flexibilidade.
O segundo grupo viu o governo do PT mostrar também um lado generoso em relação aos mercados.
Faculdades em sua grande maioria de fachada, autodefinidas como "instituições do ensino superior", carentes de rigor científico mínimo em sua docência e pesquisa (esta, salvo raras exceções, inexiste neste ramo empresarial), tiveram seus cofres inflados com o ProUni.
Já que os pobres são tolhidos em larga escala das universidades públicas -uma vez que frequentam o ensino fundamental em escolas públicas, que se encontram destroçadas-, o governo Lula encontrou uma saída bárbara: reuniu-os nos espaços privados do ProUni.
De outra parte, deu-se positivamente a ampliação das universidades públicas, através da expansão dos cursos nas instituições federais e da contratação significativa de docentes. Mas o governo o fez deslanchando o Reuni, programa de expansão das universidades federais.
Constrangidos pelo produtivismo (anti)acadêmico e calibrados pela competição, há precarização de condições de trabalho. Os salários são baixos. A carreira, mal estruturada.
Mas o governo não contava que essa ampliação quantitativa tivesse fortes consequências qualitativas: a nova geração de jovens professores, doutores em sua grande maioria, parece não aceitar sem questionamentos esse lado perverso do Reuni, que quer assemelhar universidades públicas àquelas onde viceja o ProUni.
Dando aulas muitas vezes em galpões, sem salas de professores (quando há, sem condições de pesquisar), os docentes, cujos adoecimentos e padecimentos, para não falar de mortes, não param de se ampliar, decretaram uma ampla e massiva greve nas federais.
Querem melhores salários, condições de trabalho dignas e carreira efetivamente estruturada.
Os conservadores dizem, tentando mascarar o desejo pela completa privatização, que a greve dos docentes públicos é uma forma de "receber sem trabalhar". "Esquecem" algo elementar: qual docente, no juízo razoável de suas faculdades, quer arrebentar seu calendário e repor aulas quando deveria estar em férias?
Só mesmo as vozes conservadoras podem identificar uma greve, com suas atividades, assembleias, debates, desgastes, riscos e tensões, como "descanso remunerado", argumento histórico das direitas derrotado pela Constituição de 1988.
Para muitas dessas vozes, a pesquisa e a reflexão livres incomodam. Elas gostariam de privatizar as federais, convertendo-as ou em universidades profissionalizantes ou, ao menos parte delas, em "universidades corporativas", uma flagrante contradição, pois universalidade não rima com corporação.
Há um segundo ponto importante: muitos alegam que é preciso investir no ensino básico, o que os leva a recusar o apoio à universidade pública. Mas alguém seriamente acredita que aqueles que querem destroçar a universidade pública querem, de fato, um ensino básico público, laico e de qualidade?
RICARDO ANTUNES, 59, é professor titular de sociologia na Unicamp e autor de "O Continente do Labor" (Boitempo)
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


Texto publicado no UOL:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/59011-para-onde-vao-as-nossas-universidades.shtml

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

MORTE DE PESCADORES REACENDE DEBATE DOS IMPACTOS GERADOS POR MEGAEMPREENDIMENTOS

Direitos Humanos 


Morte de pescadores reacende debate dos impactos gerados por megaempreendimentos


Publicado em 02.08.2012

O Rio de Janeiro tem sido alvo de inúmeros investimentos, principalmente após a escolha da cidade para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. O tão elogiado “progresso” não necessariamente é sinônimo de melhoria da qualidade de vida para todos. Muito pelo contrário. Em muitos casos, ele esconde uma série de crimes ambientais e de impactos sociais, causando até a morte de quem questiona os rumos da política local. 


No final de junho deste ano, dois lutadores foram encontrados mortos, amarrados e afogados nas águas da Baía de Guanabara. Almir Nogueira Amorim e João Nunes Penetra (Pituca) eram pescadores e faziam parte da Associação de Homens e Mulheres do Mar (Ahomar), organização composta por pescadores artesanais que lutam contra os impactos sociais e ambientais na Baía de Guanabara gerados por megaempreendimentos, como o Complexo Petroquímico da Petrobrás (Comperj).

Não é a primeira vez que este tipo de morte com evidências de serem ameaças aos que estão na luta acontecem. Em 2009 e 2010 Paulo Cézar Souza e Márcio Amaro, ambos também da Ahomar, foram igualmente assassinados de forma brutal. Suas mortes não foram esclarecidas.

A esses fatos soma-se o desaparecimento, há uma semana, do pescador conhecido como Careca, também ligado à Ahomar. Outras lideranças vêm sendo ameaçadas. As baías e os pescadores estão morrendo por causa de grandes empreendimentos.



Audiência debate a grave situação da pesca no Rio


Para tratar desse assunto, a Comissão Especial de Acompanhamento da Pesca no Rio convocou uma audiência pública para o dia 1º de agosto. Apenas dois integrantes da Comissão compareceram: os vereadores Edison da Creatinina (PV/RJ) e Eduardo Moura (PSC). Por outro lado, o plenário ficou lotado com a presença de pescadores e pescadoras, apoiadores de sua causa e defensores dos direitos humanos. Também estiveram na mesa o desembargador federal do Trabalho, Mário Sergio Pinheiro, e o defensor público Henrique Guelber. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente e o Ministério da Pesca enviaram representantes: José Fagundes Resende e Antônio Emílio, respectivamente. O objetivo da audiência foi denunciar a grave situação da pesca no Rio de Janeiro e daqueles que têm nela o seu sustento.

 “Esperamos que o Governo e outras autoridades reajam aos acontecimentos que vêm sendo divulgados. Eles dizem respeito não apenas ao trabalho, mas à própria vida dos pescadores. Queremos saber quem são os responsáveis pelas balas”, cobrou Creatinina. Como lembrou Gabriel Strautman, da organização Justiça Global, os crimes ambientais são praticados pelas grandes empresas, e é aí que as investigações das mortes têm que focar. “O Estado tem que investir na proteção desses pescadores, pois eles são proprietários legítimos dos territórios em que estão”, disse.

A luta dos Homens do Mar vai continuar



O pescador Alexandre Anderson de Souza, presidente da Ahomar, garantiu que, apesar das ameaças e das mortes recentes, a luta dos pescadores contra os danos de grandes empresas vai continuar. Anderson já foi ameaçado diversas vezes, sofreu atentados e hoje recebe escolta policial 24 horas por dia. Ele e outros presentes também criticaram duramente a ausência do ministro da Pesca, Marcelo Crivella, e do secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, na audiência do dia 1º. Ele também cobrou a presença de um representante da Petrobrás. “A Constituição Brasileira diz que temos direitos iguais, mas hoje estamos sendo expulsos à bala da Baía de Guanabara por causa de atividades industriais. Tinha que haver uma representação da Petrobrás aqui, já que todos os assassinatos foram cometidos nas áreas em que ela possui empreendimentos. Cadê a responsabilidade social da empresa?” questionou, indignado.

Para mostrar que as denúncias são antigas, Anderson leu um trecho de uma carta escrita por Márcio Amaro, o pescador morto em 2010. Pouco antes de ser assassinado, ele denunciou o descaso com os pescadores atingidos por um vazamento de óleo da Petrobrás na Baía de Guanabara em 2000. Dez anos depois eles ainda não tinham recebido nenhuma indenização. “Essa carta mostra como os nossos problemas são antigos, e a impunidade também”, concluiu Anderson.

Sepetiba sofre com poluição e ação de milícias



A zona do oeste é outra região afetada com os investimentos predatórios que estão sendo feitos na cidade. Os pescadores da Baía de Sepetiba sofrem por causa da ação da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) em Santa Cruz. Além da poluição do ambiente e dos danos causados à saúde da população local, há ainda denúncias de que milícias armadas estariam agindo na região e ameaçando as lideranças que lutam pelos seus direitos.

Isac de Oliveira, presidente da Associação dos Pescadores Artesanais da Pedra de Guaratiba, denuncia os impactos na Baía de Sepetiba causados pela TKCSA e a omissão do Ministério da Pesca, que hoje, segundo ele, está “pescando pescadores”. “Hoje o Ministério da Pesca recebe R$ 803 milhões do Governo Federal e não faz nada pela pesca artesanal. Nossa soberania está em risco, mas as empresas lucram cada vez mais. Estamos perdendo nossas águas, e estamos aqui para lutar por nosso modo de vida”, disse Oliveira.  


Marcha pelo centro do Rio deu visibilidade aos danos



Após o debate na Câmara dos Vereadores, todos os presentes saíram em marcha até a sede da Petrobrás, responsável pelo Comperj, e também até o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), por investir nas obras do Comperj e da TKCSA.  Como lembrou Sandra Quintela, do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), os empreendimentos denunciados na audiência recebem investimentos públicos. Ou seja: é o dinheiro do povo que patrocina ações que não respeitam os direitos das populações tradicionais, como os pescadores artesanais, quilombolas, ribeirinhos, indígenas etc. “Toda a máquina do Estado está a serviço de um modelo de morte”, observou. Ela propôs ainda uma auditoria de todos os financiamentos na Baía de Guanabara e cobrou do poder público um diálogo efetivo com as comunidades diretamente afetadas. 

Texto do NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação):