Esther Vivas
do blog Público.es
Traduzido por Natália Mazotte, do Canal Ibase
A
abertura de um grande centro comercial, um supermercado… sempre vem associada à
promessa de criação de emprego, dinamização da economia local, preços
acessíveis e, definitivamente, ao progresso. Mas será esta a realidade? A
distribuição comercial massiva se sustenta em uma série de mitos que,
geralmente, sua prática desmente.
A Associação Nacional de Grandes Empresas de
Distribuição (ANGED), o patronal da grande distribuição, que agrupa
empresas como Alcampo, El Corte Inglês, FNAC,Carrefour, Ikea, Eroski, Leroy Merlin, entre outras, acaba de impor um novo e duro acordo a
seus 230 mil empregados. A partir de agora, trabalhar no domingo equivalerá a
trabalhar em um dia de semana, e aqueles que até o momento estavam isentos por
motivos familiares, também terão que fazê-lo. Desse modo, fica ainda mais
difícil conciliar a vida pessoal/familiar com a profissional, em um setor onde
a maioria dos trabalhadores é formada por mulheres.
Além
disso, aplica-se a regra de ouro do capital, trabalhar mais por menos:
amplia-se a jornada de trabalha e diminui-se o salário. Da mesma forma, se as
vendas caírem para abaixo do registrado em 2010, salários serão cortados em 5%.
Chover no molhado em um setor por si só já extremamente precário. A ANGED, por
sua vez, considera que “o acordo reflete o esforço de empresas e trabalhadores
para manter o emprego”. Mas que emprego?
E
agora Caprabo, propriedade
de Eroski, anuncia que quer demitir 400 trabalhadores, não aplicar o aumento
salarial pactuado e cortar em 20% os salários de parte de seus funcionários. A
culpada? A “previsível” queda nas vendas e a crise. No ano passado,
curiosamente, a empresa anunciou que em 2011 seus lucros haviam aumentado 12%.
A santa crise “resgata” de novo a empresa.
Nesse
contexto, supermercados e criação de emprego parecem muito mais um paradoxo.
São vários os estudos que observam como a abertura destes estabelecimentos
implica, consequentemente, o fechamento de lojas e comércio locais e, portanto,
a perda de postos de trabalho. Assim, desde os anos 80, e na medida em que a
distribuição moderna se consolidava, o comércio tradicional sofria uma erosão
constante e incontrolável chegando a ser hoje em dia quase residual. Se em 1998
existiam 95 mil lojas, em 2004 este número foi reduzido a 25 mil, segundo dados
do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente.
E
se o pequeno comércio diminui, o mesmo ocorre com a renda da comunidade, já que
a compra em uma loja de bairro repercute em maior medida na economia local do
que a compra em uma grande rede varejista. Segundo um estudo de Friends of the Earth(2005), na Grã Bretanha , 50% dos
lucros do comércio em pequena escala retorna ao município, normalmente através
da compra de produtos locais, salários dos trabalhadores e dinheiro gasto em
outros negócios, enquanto que empresas da grande distribuição reinvestem apenas
insignificantes 5%.
Ademais,
devemos nos perguntar que tipo de emprego os supermercados, redes de desconto e
hipermercados fomentam. A resposta é fácil: jornadas de trabalho flexíveis,
contratos a tempo parcial, salários baixos e tarefas rotineiras e repetitivas.
E o que acontece se alguém decide se organizar em um sindicato e lutar por seus
direitos? Se o contrato de trabalho for precário, é melhor ir se despedindo do
seu trabalho. Wal-Mart, o
gigante do setor e a multinacional com o maior número de trabalhadores no mundo
todo, é o exemplo por excelência. Seu slogan “Sempre preços baixos”, pode ser
substituído por “Sempre salários baixos”. E não só isso, um estudo sobre o impacto do Wal-Mart no
mercado de trabalho local, de 2007, concluía que por cada posto de
trabalho criado pelo Wal-Mart, 1,4 postos de trabalho eram destruídos nos
negócios preexistentes.
Mas
as consequências negativas da grande distribuição para os que participam da
cadeia de produção, distribuição e consumo não acabam aqui. Desde os
agricultores, que são os que mais perdem com as grandes varejistas, obrigados a
acatar condições comerciais insustentáveis e que os condenam à desaparição, até
consumidores instados a comprar para além de suas necessidades produtos de má
qualidade e não tão baratos quanto parecem, até um tecido econômico local que
se fragmenta e descompõe. Este é o paradigma de desenvolvimento que promovem os
supermercados, de onde a grande maioria de nós sai perdendo enquanto uns poucos
sempre ganham.
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