Cerca de 50 trabalhadores recrutados no
Paraguai foram encontrados no estabelecimento, em Cambira (PR), em situação análoga à
escravidão.
A reportagem é de Carlos Ohara e publicada no jornal Gazeta do Povo,
01-11-2012.
Cerca de 50 trabalhadores recrutados no
Paraguai, em cidades próximas à Assunção, foram localizados na manhã de ontem
em Cambira, na
Região Norte do Paraná, alojados em condições precárias de higiene e sob
suspeita de trabalhar em condições análogas à escravidão. Os paraguaios eram
funcionários do Frigorífico Nostra,
de propriedade do empresário Antônio Valdecir Spaciari,
de Apucarana.
A localização dos trabalhadores, que
entraram no país com visto de turismo, ocorreu durante operação conjunta entre
o Ministério Público do Trabalho (MPT) em Londrina e a Polícia Federal
em Maringá. O procurador Luiz Carlos Fabre,
que dirige a Coordenadoria de Erradicação do
Trabalho Escravo do MPT em
São Paulo, acompanhou a operação e afirmou que “a priori, há indícios de
tráfico internacional de pessoas e descumprimento completo da legislação
trabalhista”. Até o fechamento desta edição, procuradores e agentes da PF continuavam
no local, ouvindo depoimentos dos paraguaios.
A estratégia era utilizar o tempo do visto
de turismo, com prazo de 90 dias, para trabalhar ilegalmente no frigorífico. Um
dos trabalhadores contou que recebia em média R$ 600 reais mensais, embora a
promessa feita no Paraguai fosse de R$ 1,4 mil por mês. Segundo relatos, os
funcionários eram obrigados a cumprir excessiva jornada de trabalho, que
chegava a 12 horas de serviços em alguns casos.
Em nota, a PF informou
que todos os trabalhadores que estão no local com visto de turista serão
notificados a deixar o país em oito dias, e deverão pagar multas com base no Estatuto do Estrangeiro.
O frigorífico será autuado por empregar estrangeiros irregularmente e terá de
pagar todas as verbas trabalhistas devidas, além de responder por crime de
trabalho análogo à escravidão.
Há cerca de um mês, o local vinha sendo
monitorado por policiais federais. O procurador Heiler Ivens de Souza Natal,
do MPT em
Londrina, chegou a cruzar dados de produção do frigorífico com o número de
trabalhadores legalmente registrados, encontrando inconsistências nos números.
A localização dos paraguaios ocorreu após o relato de uma funcionária do
frigorífico, inconformada com a situação, a um taxista de Maringá. A mulher
teria informado que a contratação ilegal dos estrangeiros era de conhecimento
do proprietário da empresa e indicou a localização do frigorífico.
Trabalhadores ilegais dormiam
na garagem de um imóvel
Procuradores e agentes federais chegaram ao
local às 6h da manhã, acompanhados de soldados do Batalhão de Choque da Polícia
Militar de Londrina. Um grupo de paraguaios tentou fugir do local, mas foi impedido
por policiais. Dois deles, porém, conseguiram escapar utilizando trilhas que
cortam a mata onde está localizado o frigorífico.
O procurador Luiz Fabre registrou cenas dos trabalhadores
ilegais dormindo na garagem de um imóvel de Cambira. No
interior do frigorífico, pequenas casas também eram utilizadas para abrigar os
trabalhadores. Os imóveis apresentavam total falta de higiene, com restos de
comidas espalhados sobre as mesas e panelas abertas com restos de comida. Em um
cartaz, escrito com palavras em português e espanhol, a advertência: “a partir
de hoy sera permitido solamente 2 pedaços de carne por persona”. O aviso era
assinado por “La direccion”.
Após serem informados sobre os direitos de
trabalhadores no Brasil, alguns dos paraguaios se dispuseram a falar sobre o
recrutamento no país vizinho. De acordo com depoimentos, um funcionário do
frigorífico identificado como Marco seria o
responsável pelo contato no Paraguai. O suposto esquema ilegal estava sendo
utilizado pela empresa desde abril.
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