Em dois a três anos, 60 usinas de açúcar e etanol, das 330
que processam 90% de toda a cana do País, deverão interromper atividades
18 de fevereiro de 2013 | 2h 05
Das 330 usinas de açúcar e etanol da Região
Centro-Sul do Brasil, responsáveis por 90% de toda a cana-de-açúcar processada
no País, 60 deverão fechar as portas ou mudar de dono nos próximos dois a três
anos, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). A entidade
tem confirmação de que pelo menos dez deixarão de processar a safra 2013/2014,
por dificuldades financeiras.
Desde 2008, quando começou a crise financeira mundial,
nenhuma decisão de instalação de nova usina foi tomada no País. Só quatro
unidades estão previstas para entrar em operação até 2014, mas são projetos que
foram decididos antes da crise.
Em contrapartida, 36 usinas entraram em recuperação
judicial nesses cinco anos. Pior: no mesmo período, 43 foram desativadas, e a
grande maioria jogou a toalha nos últimos dois anos.
Em recuperação judicial desde 2010, a usina Floralco, do
município de Flórida Paulista, no oeste do Estado de São Paulo, por exemplo,
decidiu encerrar suas atividades em dezembro de 2012. Cerca de 2 mil
trabalhadores ficaram sem receber o último salário e a segunda parcela 13º.
Além da dívida salarial, a empresa não depositava o Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) dos trabalhadores nem a contribuição ao
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), há mais de um ano.
"Estamos aguardando a conclusão das negociações de
venda da usina, para ver se ela vai voltar a fazer safra e normalizar a
situação dos funcionários", diz Milton Ribeiro Sobral, presidente do
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas Farmacêuticas e Fabricação
de Álcool, Etanol, Bioetanol, Bicombustível de Presidente Prudente e Região.
Com dívida superior a R$ 200 milhões, a Floralco recebeu
uma oferta de compra à vista, de US$ 148 milhões, da Lanetrade, trading
americana com operação global nos mercados de açúcar, café e outros alimentos.
O prazo para depósito do pagamento vencia na última sexta-feira, mas a Justiça
prorrogou por mais 15 dias. Se o negócio não vingar, uma assembleia de credores
decidirá o destino da empresa.
Efeito cascata. A crise se alastra pelas usinas, causando
estrago no emprego e na atividade econômica das microrregiões onde as
destilarias estão localizadas. Em 2012, o setor sucroalcooleiro eliminou mais
de 18 mil postos de trabalho no
País, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), feito com base em dados do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O quadro tende a
se agravar este ano.
"A situação do setor é complicada", afirma
Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica. Como em qualquer setor de
atividade, há problemas de má gestão das empresas, mas a grande dificuldade,
segundo ele, é a questão da perda de produtividade agrícola.
Além de faltar recursos para renovar e ampliar o canavial,
as usinas colheram três safras consecutivas afetadas por problemas climáticos,
o que aumentou o custo. Também tiveram de investir na mecanização do plantio e
colheita da cana. Para piorar, o setor alega não ter como repassar o aumento de
custo para o preço, por causa da concorrência da gasolina e dos preços do
açúcar fixados no mercado internacional. Custos em alta e margens comprimidas
resultam em aumento do endividamento.
Nem mesmo o reajuste recente no preço da gasolina foi
suficiente para trazer alívio às usinas, diz a Unica. A Petrobrás reajustou em
6,6% o valor cobrado pelo combustível, o que teve impacto, para o consumidor,
entre 4,2% e 5,3, segundo especialistas.
"Evidentemente, pode proporcionar um aumento de 4%
no etanol, mas o mercado é muito disputado e nada garante que vá ficar com o
produtor", diz o diretor da entidade. "Se o posto ou o distribuidor
aumentar sua margem, o produtor vai ficar com zero", reclama o executivo.
O impasse econômico deve elevar o endividamento do setor
sucroalcooleiro para R$ 56 bilhões ao final da safra 2013/2014, conforme
levantamento do Itaú BBA. A dívida deve crescer R$ 4 bilhões em relação aos
valores da safra anterior (R$ 52 bilhões) e se aproximar do faturamento das
usinas do Centro-Sul, estimado em cerca de R$ 60 bilhões.
O diretor comercial do Itaú BBA, Alexandre Figliolino,
estima que um terço do setor sucroalcooleiro passa por dificuldades. Ele divide
o setor em quatro grupos distintos. O primeiro, formado por grandes grupos,
principalmente internacionais, com pleno acesso ao capital. Outro, de empresas
nacionais com bom desempenho. O problema está, segundo ele, no terceiro e no
quarto grupos.
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