A Fazenda Lagoa do
Triunfo pertence à Agro Santa Bárbara, que tem entre os acionistas o banqueiro
Daniel Dantas, do Grupo Opportunity
A Polícia Civil do
Pará localizou na quinta-feira (22/8) na Fazenda Lagoa do Triunfo, em São Félix
do Xingu, sul do estado, o corpo do trabalhador rural Welbert Cabral Costa, 26
anos, desaparecido desde 24 de julho. Segundo organizações civis de defesa dos
direitos humanos como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Comissão Estadual
de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o tratorista foi
morto por seguranças da propriedade, na qual trabalhava, ao cobrar R$ 18 mil de
direitos trabalhistas.
A Fazenda Lagoa do
Triunfo pertence à Agro Santa Bárbara, que tem entre os acionistas o banqueiro
Daniel Dantas, do Grupo Opportunity. Segundo a Polícia Civil paraense, o corpo
foi encontrado no interior da fazenda, a cerca de 15 quilômetros da entrada
principal, onde, segundo testemunhas, Costa teria sido baleado por um
segurança.
Auxiliados por
bombeiros e peritos criminais, os policiais civis só chegaram ao local onde o
corpo estava após receberem uma denúncia anônima. O corpo estava em estado avançado
de decomposição e, embora tenha sido identificado por um irmão da vítima, ainda
terá que ser submetido a uma necropsia no Instituto Médico-Legal (IML) de
Marabá (PA). Uma caminhonete da Agro Santa Bárbara vai ser periciada, porque a
polícia suspeita de que o veículo foi usado para transportar o corpo até o
local em que foi encontrado.
Detalhes como os
autores e a motivação do crime ainda estão sendo apurados, mas a Justiça
Estadual já autorizou a prisão preventiva do capataz Maciel Berlanda do Nascimento,
31 anos, e do fiscal de serviços, Divo Ferreira, 44 anos. Os dois são os
principais suspeitos do assassinato e estão desaparecidos desde o dia do crime.
De acordo com a
Polícia Civil, testemunhas contaram ter visto Ferreira atirar em Costa. Depois,
ele recebeu ajuda de Nascimento para ocultar o corpo. A polícia disse ter
encontrado munição de calibres variados, um coldre de revólver e uma mira
telescópica na casa de Ferreira. Já no interior da fazenda, policiais
apreenderam duas armas de fogo, de calibres 36, e um estojo de espoletas
(munição).
Em um nota
conjunta divulgada no dia 9 de agosto, CPT, OAB, Sociedade Paraense de Defesa
dos Direitos Humanos, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do
Pará (Fetagri) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) disseram
que, segundo moradores da região, esse não seria o primeiro homicídio praticado
no local com as mesmas características e motivação. Por isso, acreditam que
exista um cemitério clandestino na propriedade.
O Grupo Santa
Bárbara tem sido associado pela CPT a conflitos agrários no sul paraense. Em
julho do ano passado, cerca de 400 integrantes da Fetagri ocuparam a Fazenda
Itacaiúnas, em Marabá, que também pertence à Agro Santa Bárbara. Um mês antes,
mais de 300 sem-terra haviam ocupado outra propriedade do grupo, a Fazenda
Cedro, também em Marabá.
Apenas entre 2008
e 2012, a Agro Santa Bárbara alega ter registrado mais de 200 boletins de
ocorrência contra invasões do MST a propriedades como a Fazenda Maria Bonita,
em Eldorado dos Carajás (PA). Por outro lado, a empresa já foi processada por
desmatamento ilegal e alvo de uma operação que encontrou trabalhadores em
condições análogas às de escravidão.
Em um relatório
divulgado em agosto de 2012, a CPT identifica a existência de 38 lideranças e
trabalhadores rurais ameaçadas de morte nas regiões sul e sudeste do Pará em
decorrência da luta pela terra. Além disso, entre 1996 e 2010, 799
trabalhadores rurais foram presos, 809 foram ameaçados de morte e 231 foram
assassinados no estado. Ainda segundo a CPT, no mesmo período, mais de 31 mil
famílias foram despejadas ou expulsas de 459 áreas reivindicadas para assentamentos
da reforma agrária.
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