A Zara enfrenta nova denúncia de
exploração de trabalhadores em condições análogas às de escravos, desta vez na
Argentina. Costureiros bolivianos foram encontrados em condições degradantes em
oficinas clandestinas durante fiscalização realizada no final de março pela
Agência Governamental de Controle (AGC) de Buenos Aires. Segundo as
autoridades, eles estavam produzindo peças para a grife. Além de trabalho
escravo, desta vez o flagrante envolve também exploração de trabalho infantil.
“Os homens e as crianças viviam no local de trabalho, não eram registrados e estavam
submetidos a más condições. Eles não tinham documentos e estavam detidos, não
podiam sair do local de trabalho sem autorização”, explica o chefe da AGC, Juan
José Gómez Centurión, em entrevista à Repórter Brasil.
Com base no flagrante da produção de
peças com a etiqueta Zara, registrado em fotos e vídeos, a organização La
Alameda, especializada no combate ao trabalho escravo, formalizou em 26 de
março denúncia para que o departamento de Fiscalização Antitráfico (Ufase, na
sigla em castelhano) investigue e tome providências (clique aqui para ler a
denúncia em espanhol). Segundo a Alameda, além de serem impedidos de deixar o
trabalho, os costureiros chegavam a cumprir jornadas diárias de mais de 13
horas. O grupo formalizou a denúncia e também organizou protestos em frente a
lojas da Zara na Argentina.
A reportagem procurou os representantes
da Inditex, empresa que detém a marca Zara. Eles se disseram “bastante
surpresos com a situação”. De La Coruña, na Espanha, a assessoria de imprensa
afirmou que a empresa não foi notificada ou informada oficialmente por nenhuma
autoridade argentina e que só soube do caso pela imprensa. “A escassa
informação que tivemos, que são os endereços das oficinas, permite dizer que
elas não têm nenhuma relação com nossos fornecedores e fabricantes no país”,
afirmam.
A Zara informa ter 60 fabricantes
argentinos e que, nos últimos dois anos, realizou 300 auditorias de
fornecedores e fabricantes do país. A empresa se diz disposta a colaborar com o
esclarecimento do caso, “inclusive com a Alameda, tenham ou não essas possíveis
situações irregulares a ver com a empresa”.
Jornadas chegavam a 13 horas por dia, segundo denúncia
É a segunda vez que a Zara se vê
envolvida com denúncias de superexploração de trabalhadores na América do Sul.
Em agosto de 2011, fiscais flagraram trabalho escravo na produção de peças da
grife no Brasil.
Pela lei argentina, a situação pode ser
caracterizada como de tráfico de pessoas, segundo Juan José Gómez Centurión,
responsável pela fiscalização em questão. “Eles estavam sem documentos, detidos
no local. Mas isso foge da competência administrativa da AGC e, por isso,
fizemos apenas o registro de más condições de trabalho, emprego de trabalhadores
não registrados e falta de condições mínimas de segurança, e encaminhamos o
caso”, explica.
A reportagem tentou contato com Marcelo
Colombo, o chefe da Fiscalização Antitráfico, mas ele não foi encontrado para
comentar as providências a serem tomadas com base no documento protocolado pela
Alameda. O a denúncia surge em um momento em que o combate ao tráfico de
pessoas e ao trabalho escravo ganha força no país. Nesta semana, será realizado
em Buenos Aires um Congresso Internacional contra o Tráfico de Pessoas. Em
dezembro do ano passado, o Congresso Nacional aprovou mudanças na legislação
sobre o tema.
Fonte: http://reporterbrasil.org.br
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